Rótulos são para produtos, não são para pessoas

02-10-2021
Atribuir um diagnóstico, seja ele de uma doença física ou mental acaba por ser "um descanso" para a pessoa que tenta encontrar uma resposta para a causa do seu problema.

 

Porém, independente do diagnóstico, a pessoa sabe sempre o que sente. Ninguém precisa que lhe seja diagnosticado, por exemplo, fibromialgia para saber que sente cansaço e dor incapacitante, a dor não fica melhor porque tem um nome.


Contudo, quando alguém perguntar a essa pessoa: "o que tens? Porque estás sempre assim?", a pessoa vai ter uma resposta concreta, e isso é tranquilizador (para ambas as partes). Ninguém gosta de "incertezas". 


Com as doenças mentais, acaba por ser o mesmo. A pessoa sente-se triste, desmotivada, embotada, e questiona-se: "Porque me sinto assim? ". E a pessoa vai ao médico psiquiatra que lhe diagnostica "Depressão". Uns tempos depois, já não fica na dúvida, responde: "estou assim porque tenho depressão."


Ter um diagnóstico para além de tranquilizar os outros, tranquiliza o próprio porque conhece aquilo que está a enfrentar. 


Um dos maiores medos do ser humano será sempre o medo do desconhecido, daí que sempre que nos deparamos com a incerteza o nosso objectivo seja procurar uma resposta, uma "certeza".


Mas, eu pergunto: e depois? Depois do "rótulo" o que resta?!


Será que basta colocar rótulos?!


Muitas das vezes os rótulos acabam por ser deterministas. "Faço isto porque tenho isto. Sou assim porque tenho isto. É assim porque tem aquilo.


Embora se perceba a importância de um "rótulo", é importante não esquecer que as pessoas são todas diferentes, não existe uma pessoa igual.
Dou-lhe um exemplo simples:


Pense numa pessoa com olhos verdes. Os olhos verdes são todos iguais? Conhece duas pessoas com olhos verdes cuja cor verde seja exactamente igual?!

E agora reflicta comigo: sabia que a cor dos olhos depende quase inteiramente da genética?!

Agora imagine uma doença (um rótulo), por exemplo a Depressão, que depende de factores genéticos, hereditários, ambientais, bioquímicos, sociais, psicológicos, individuais...ainda acha que "é tudo igual"?!


Seja qual for o rótulo, nunca se esqueça, existe sempre uma embalagem e um conteúdo, que são bem maiores e mais complexos que qualquer rótulo.
Você é único. O outro é único! 


O diagnóstico é importante, mas nunca se esqueça da pessoa que está, e sempre esteve, e estará por detrás de qualquer rótulo.

M Filomena Abreu - psicóloga clínica e hipnoterapeuta